LEMBRANÇAS
Estavam lá, como escombros,
jogados, atirados,
feito entulhos amontoados.
Estavam lá, no fundo do armário,
nas prateleiras do guarda-roupa,
em sacos de plástico,
em sacos de pano,
entre clips, papéis, envelopes.
Estavam lá as fotos
do velho amor,
as fotos de lugares
há muito esquecidos,
as cartas, os textos,
as gravuras, os desenhos,
as fitas cassetes de músicas
há muito, muito tempo
não ouvidas.
Estavam lá, nos entulhos
do porão da minha casa,
no fundo do meu cérebro:
as moedas antigas,
os quadros pintados,
a poesia escrita
e jamais publicada;
o diploma da faculdade.
Estava lá a minha juventude,
jogada, feito escombros,
como um monte
de cacos desordenados,
no fundo de armários
e gavetas.
Jogados no fundo de mim.