O Poeta Pleno
Não sei se valho o que penso, e se o
que penso tem valia, assim, não
me desmereço, este é meu preço:
a dúvida do que tenho e que, em
não tendo, esqueço.
No tempo pronto possuo forma, no
tempo vindouro vou-me embora,
fujo dos olhos em que me vi, mas
que não viram o que vivi.
Destas buscas faço-me inteiro,
nelas sonho, o sonho derradeiro:
ser poeta plenamente,
ser rebelde permanente,
amante e aventureiro.
Seguir o pássaro que voa no nada,
seguir a flor da madrugada,
ver o dia se abrir quando a noite
insiste em prosseguir.
Falar às pessoas sentadas,
amar as pessoas aladas,
alienado e só,
desesperado e só;
abandonado por ser amado,
Só, por ser o que penso.