DEFEITO DE FABRICAÇÃO

Com um olhar atravesso o tempo

com a voz sigo o vento,

os passos estaco no estreito vão

entre a ação e o pensamento.

O pária procura a casa num vôo sem asa,

o errático encontra-se sem a gana que

leva o prático à lama;

cão doméstico , que prende as presas no próprio

rabo,deixa de girar com o mundo,

não se arrasta nem cai nem de teimoso vai;

os sonhos dormem,

a curiosidade cansa,

o pensar dói.

O ocaso é estranho e belo e absurdo:

o céu púmbleo, o horizonte laranja,

um traço negro interliga o éter ao menino,

como a apontar-lhe o destino;

a estrada sem chegada o acompanha

a cama sem mulher que o ame,

o revólver sem bala que o deponha

a fé sem Deus que o chame.

Assim, com o desejo fútil e a razão mórbida

agarro-me à causa sórdida de respirar para não

morrer,

sabendo que estar só e sem defeitos,

é apenas um suicídio lento.

Carlos Moraes
Enviado por Carlos Moraes em 11/01/2006
Código do texto: T97480