AMOR, TEMPOS PASSADOS

AMOR, TEMPOS PASSADOS

O povo em algazarra, festa folia e quentão

Eu no meu canto calado, discreto, tento não chamar a atenção.

Passo um tempo na calma, desapercebido um bocado, mas quando foi depois da meia, meu sossego acabado. Chegou com seu brilho à festa aquela que todos esperavam. Ficaram alguns minutos em silêncio, todos ficaram parados. Todos faziam continência, chegara lá a rainha daquele pequeno povoado. Todos batiam palmas e ela fez sua graça, com todos brincou um bocado. Depois saiu dançando um belo de um vanerão arretado. A festa voltou ao normal e eu com a calma abalada. Meus olhos zaguezeavam, procurava por todo canto e ela trocava de lado. Depois de alguns quentões meu coração, que danado, me forçou correr atrás e com ela dançar um chachado. Aí é que a coisa ficou louca, por ela fiquei adoidado. Toda bela e que formosura, educação perfeita à adequada. Dançamos uma e mais outra e ela me chamou p’rum lado, puxamos uma cadeira onde tinha um lampião apagado. Aí é que vi sua beleza, um grande tesouro guardado. Jóia e nenhuma especiaria se comparam à bela que estava ali do meu lado. Diante de tanta beleza meus nervos estavam abalados, mas ela a cada minuto, com carinho, seus dedos meus lábios tocavam. Pedia para que ficássemos em silêncio, afirmava já me conhecer de um outro tempo passado. Com estas palavras faceiras meu sono ficou abalado, mas mesmo já a acordar ela deu seu recado, segurou forte a minha mão e sua voz em soluço. A mim falou sussurrado, “nós dois em vidas passadas, em mais ou menos mil e seiscentos, na vila chegou um recado, que você, o filho do rei, por mim tinha apaixonado. Como eu era uma escrava nosso amor não foi vingado, por ganância e por poder com a Zefa foi confinado, e eu na velha senzala no tronco fui açoitada. Hoje faz mais de quatrocentos anos nós dois em corpos trocados, sou a rainha do petróleo e tu um gari afamado. Mas o tal do poder e a ignorância são a mesma dos tempos passados. Estão contra o nosso amor que é lindo, agora é tua mãe que julga tu não ser comprado. Abra teus olhos meu amor senão pode tudo dar errado. Eu sou a mesma do tronco e tu o rei do passado”. Com estas palavras acordei o sonho já tinha acabado, o dia já vinha raiando, levantei e saí correndo, como era acostumado. Quando cheguei no sinal parou o carro do lado. O vidro todo fumê um pouco foi abaixado. O senhor do volante a mim lembrou que era uma bela manhã e também um lindo feriado. Fiquei todo surpreso ao ver a moça do lado. Era a moça do sonho, sonho que eu tinha sonhado. Abriu um sorriso maneiro e disse, “motorista me apanhe do outro lado”. Com estas palavras abriu a porta do carro. Aí é que fiquei pasmo. Acabara de sonhar com ela e já estava ao meu lado. Perguntou-me minha graça e convidou-me a atravessar a avenida que o sinal já estava fechado. Paramos no canteiro central, aí ela ficara toda à vontade. Disse-me com toda clareza que pro almoço eu era seu convidado. Aí é que fiquei trêmulo com ela falei assustado, “tu sabes quem sou eu?”, e ela com toda doçura, “meu rei dos tempos passados”. Depois de alguns minutos o carma já tinha passado e eu em terra firme meus pés no chão já plantado. O moço do volante fez o contorno e de novo parou do lado. Disse com todas as letras, “rainha, seu almoço está preparado”. Ela falou “Então vamos, eu você e meu rei. Hoje é o grande dia, o qual será celebrado. Será o meu noivado, eu e o Zé em um palácio igual dos tempos passados”.

CAMBRAIA, João

CAMBRAIA JJOÃO
Enviado por CAMBRAIA JJOÃO em 05/01/2006
Reeditado em 11/06/2008
Código do texto: T94868