Escuta
Entra!
Está aberta a porta
Se achegue se ajeite.
Sirvo-te um chá quente
E lá fora o vento, serpente.
Gemendo.
Não peço pra que fiques
Nem que te vás
Peço apenas que entendas
Que o tempo não para
E enquanto dormes tuas cãs
Tornam-se cada vez mais brancas
E o chão que tu pisas
Mais tempo te agüenta
Teus passos tão firmes se tornarão lentos...
Pensas em acalanto, num canto, num ombro.
E o tempo a teu mando
Enganando-te
A vida torna-se cada vez mais longe
E os anos pequenos vão ficando.
A noite é cada vez mais breve
E o sono sempre leve
E breves são teus dias
Que te perdes nas estradas
A procura do que não é teu
Entra, senta!
Toma mais um gole de paciência...
Olha as precisas mãos
Que tu precisas nas bengalas te apoiar.
Em quantas em sã consciência ou não
Encostaste
Qual tronco grosso e forte
Em cima de rochas
Que tentavas mostrá-las,
Areias.
Senta, é cedo ainda!
Seus pés estão firmes,
Suas pernas agüentam
Bebe mais um gole da”aguardente”
Que deste aos teus parentes
Teus entes, tua gente!
E nela te banhas e relaxas,
Pois ainda precisas tomar um cálice do veneno
Que ofereces ao povo.
Embriagadas almas sedentas.
Pare!
Não bebas mais!
Esquece a taça, o vinho acabou.
Seria esse o teu gole final
Mas a morte chegou!
Lili Ribeiro