- ESCREVER SOBRE A MULHER - NO DIA DA MULHER
Mulher
Quem chamou de puta,
àquela mulher,
que desce a calçada apressada.
Precipitada.
Como se amordaçada.
Subjugada a um destino.
Que a sujeita.
Que a consome.
Que lhe morde.
Que a aferra e a mutila.
Alma subjugada,
a um destino, que a mata.
Tem nojo de si própria.
E o passo, que a leva apressada
à sua má sorte.
Leva-a para sul, para norte.
Vai para onde calha.
Leva-a, aonde o coração a arremessa.
Onde se encontram os olhos sequiosos.
Ansiosos, ávidos. insaciáveis,
sôfregos e sufocantes.
Com desejos ardentes
do seu corpo de mulher cativa,
que tem na vida um destino.
Airosa, vistosa, põe seu ar de volúpia.
Pousada na esquina, espera a sua vez.
Mas é pura, por dentro, e por fora.
Tem a auréola da glória.
É segura, e sua alma continua
branca, na negrura da vida.
Antes do passo, leva as mãos ao peito.
Reza uma oração, benze-se a seu jeito
Ainda não perdeu a fé.
Cheia de desonra, e amargura, vende
um pouco da sua ternura.
Em casa, os filhos da sua má sorte,
esperam pelo pão.
-Mãe, aonde vais com o teu xaile bordado.
E teu cabelo enfeitado?
Cheiras tão bem mãe.
-Mãe traz-me um bolo, vem contar-me uma história.
A voz que se ouve é cavernosa, fraca dolorosa
Os medicamentos estão a faltar.
E não há dinheiro para os comprar.
-Sim a mãe já volta.
Trago-te o bolo e conto-te a história.
E a mulher forte sem sorte,
As lágrimas escorrem pela face consumida.
mas essa amargura nãoa dobra
Desce, de cabeça erguida a calçada.
Qual Vénus, sem temor e com valentia.
Rainha coroada pelo amor de mãe
Alguém lhe chamou puta? Ela não ouviu.
Apenas no seu sentido, está a voz do filho.
Que ás portas da morte, chora com fome.
E ela tem pressa, tem uma história para lhe contar.
E vai levar-lhe o melhor
e mais belo bolo que encontrar.
de t,ta
08-03-08
11.45