O SERTANEJO, UM EX-RETIRANTE

Pouco a pouco a imagem refletida aos seus pés,

Indica que o sol vai pendendo rumo ao poente,

Queima deste o peito do pé sobre o solo ardente

E o verde do mandacaru é o que se lhe aparece;

O homem cava a extrair a água de que carece

E no arbusto canta a cigarra seu canto estridente.

Solitária, porém sagaz desliza a serpente,

Sem rastro, sem marcas serpenteia o caminho,

Andrajoso, caminha o homem em desalinho,

Buscando o invisível nessa imensidão visível,

De folhas retorcidas sobre uma terra temível,

A passos quase imperceptível e sempre sozinho.

E assim segue cabisbaixo em seu caminho,

O destino de quem se esvai na trilha errante,

Aos que deixam a terra e em soluço ofegante;

Recebem o sinal dos que os vêem passando

No peito a dor e a imensa saudade apertando,

Sentida no coração do nobre homem retirante.

O sol pousa seus últimos raios sobre o horizonte,

Deixando ao transeunte um tenro feixe de luz,

Mal se pode ver a direção que a vereda conduz;

Desce sobre a terra o manto negro da longa noite,

Cai o corpo em desalento na agonizante pernoite,

De quem em seu ultimo sono repousa sobre a cruz.

Rio, 03/03/2008

Feitosa dos santos