Saudosismo
Saudade! . . .
Quanta saudade! . . .
Saudade cada vez mais tanta! . . .
Saudade vestida com o manto do saudosismo,
Saudade orquestrada com os acordes de piano e violinos;
Saudade de minha infância extraviada na curva do tempo
Que se perdeu na poeira dos propósitos mortos;
Saudade até do que não foi . . .
Saudade da velha quinta com seu imenso quintal
Onde brincávamos sob a sombra de frondosas mangueiras;
Saudade das tarde sonolentas de inverno,
Das noites intermináveis, povoadas de relâmpagos, trovões,
E o vento soprava furioso, despertando em nós os fantasmas do medo;
Saudade das pipas coloridas que pairavam etéreas no azul
Quase inexistente do céu de julho;
Saudade das tias maternas que nos visitavam,
Trazendo novidades para nosso paladar;
Saudade do jardim repleto de papoulas e rosa de várias tonalidades,
Dos girassóis de olhos arregalados de espanto,
Das borboletas matutinas de cores extravagantes,
Dos beija-flores dançando seu balé rítmico
Ao som alucinante de tambores tribais,
Eco longínquo de Áfricas utópicas . . .
Saudade dos carrosséis girando fábrica de sonhos
Nos festejos do padroeiro: Bom Jesus dos Aflitos;
Saudade dos mortos queridos que fui perdendo
No desenrolar monótono dos dias . . .
Saudade dos sonhos que se deterioraram,
Da inocência que se diluiu em púrpura . . .
Saudade! . . .
Quanta saudade! . . .
Saudade do tudo quanto perdi irremediavelmente! . . .
Oliveira