O FIM DA CAMINHADA.

Hoje me bateu uma saudade bem braba

Ao olhar no velho espelho da parede

E ver e até mais do que o simples ver,

É sentir, que aos poucos tudo se acaba.

A parede já não é mais limpa e branca.

O tempo a deixou suja, gasta e feia.

O espelho que já me viu bem mais novo,

Hoje reflete o que sou: Carranca.

O rosto que chegou a ser mesmo belo,

Como o é todo rosto quando ainda novo,

Hoje as rugas já marcam e bem fundo

As rugas ligando os tempos como elos.

Ou será que feio está somente o espelho?

E que o resto continua novo, lindo?

Ou será que me recuso a aceitar

O meu rosto como acabo de vê-lo?

Claro que não! Ainda tenho compreensão,

Pois sei que a parede pode pintar,

Ou mesmo derrubar e soerguer.

Mas para o corpo não tem peça de reposição.

Sei que já andei mais do que tenho a andar.

E o caminho à frente está bem mais curto.

E só não chego logo ao final,

Porque já não está fácil caminhar.

Mas não estou nada triste.

Fico até mesmo feliz e aliviado.

Quero ver e sentir e até viver

Tudo de bom e belo que ainda existe.

Nota: Escrevi pensando numa tia de minha mãe

Que, idosa, já fazia tempo que cansara de viver.

JFerreirinha
Enviado por JFerreirinha em 31/01/2008
Reeditado em 12/02/2016
Código do texto: T840898
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