O FIM DA CAMINHADA.
Hoje me bateu uma saudade bem braba
Ao olhar no velho espelho da parede
E ver e até mais do que o simples ver,
É sentir, que aos poucos tudo se acaba.
A parede já não é mais limpa e branca.
O tempo a deixou suja, gasta e feia.
O espelho que já me viu bem mais novo,
Hoje reflete o que sou: Carranca.
O rosto que chegou a ser mesmo belo,
Como o é todo rosto quando ainda novo,
Hoje as rugas já marcam e bem fundo
As rugas ligando os tempos como elos.
Ou será que feio está somente o espelho?
E que o resto continua novo, lindo?
Ou será que me recuso a aceitar
O meu rosto como acabo de vê-lo?
Claro que não! Ainda tenho compreensão,
Pois sei que a parede pode pintar,
Ou mesmo derrubar e soerguer.
Mas para o corpo não tem peça de reposição.
Sei que já andei mais do que tenho a andar.
E o caminho à frente está bem mais curto.
E só não chego logo ao final,
Porque já não está fácil caminhar.
Mas não estou nada triste.
Fico até mesmo feliz e aliviado.
Quero ver e sentir e até viver
Tudo de bom e belo que ainda existe.
Nota: Escrevi pensando numa tia de minha mãe
Que, idosa, já fazia tempo que cansara de viver.