PENÉLOPE
Dia após dia ergues
um edifício precário
ao rés do cotidiano.
Essa inglória odisséia
de rejuvenescer lençóis
na arquitetura das camas.
Esse brilho de objetos
- panelas talheres copos... -
desfeito
no implacável trajeto
da pia ao armário às bocas.
Esse modo preciso
de educar gavetas
avessas
à hierarquia das roupas.
Essas roupas quietas
na geometria das dobras
as dobras...
Ainda que mal compreendam
as mãos não perguntam nada
apenas refazem
no ciclo interminável
o gesto de Penélope.
"Não me preveniram
que ir ao oceano
seria acumular cargos."
Zuleika dos Reis
Do livro ESPELHOS EM FUGA, Editora Objetiva, 1989.
Recebeu menção honrosa no 4° Concurso de Contos e Poesias da Editora Guemanisse; aparece na antologia da referida Editora, antologia publicada em 2007.