Spray de nada...

Depois da chuva, uma neblina...

De tão fina, parecia spray de nada...

E era a terra que a perfumava

Com seu cheiro de molhada...

Penso em plumas.

Neve parece pluma...

Passadas as horas pequenas,

Chegam as horas grandiosas!...

Revezam-se.

Os golfinhos que acompanham a embarcação

Enfeitam de salvação uma viagem de férias...

Viajo no vulto do que nunca vi

E nunca verei.

Na palavra e no silêncio,

No perto e no longe,

Por cima e por baixo dos panos,

Por dentro e por fora dos anos,

Em todas as eras,

Em todos os lugares,

Eu te amo,

Eu te chamo,

Tu que não és tu,

És uma invenção dos meus sonhos!...

Como pude inventar assim o homem perfeito,

A partir de certos incentivos?...

Perfeito é só Deus.

Eu também não sou perfeita.

Gosto de estradas e de caminhos novos.

Decoro a sala,

Decoro a palavra,

Descoro a raiva

Que era amarela

E ficou incolor.

Desboto a vergonha,

Que era vermelha

E ficou furta-cor...

A paz, pinto de pombas, gaivotas...

E frases de azul permanente.

A hora entorta o tempo e o faz redondo,

O fim toca o princípio.

Volto ao homem inventado

E o projeto na tela do universo,

E o protejo numa redoma

Que improviso com minhas mãos

E o arco do meu corpo deslumbrado.

Se Deus lhe der vida,

Ele pode existir!

Sim, nada é impossível a Deus,

Ele pode existir!

Por enquanto,

Apenas a prece que o precede,

E o meu desejo,

Como um spray...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 24/01/2008
Código do texto: T830428