Bananicultura
Vede! Nas encostas húmidas do Baixo Sul,
sob o alento das chuvas e o suspiro da terra,
desperta a fruta —
não apenas em cacho, mas em destino.
Oh, banana! Filha tenra da seiva quente,
criada entre véus de folha larga,
abrigada do sol por sua mãe de palha,
ainda sem cor, ainda sem forma,
mas já jurada ao ciclo da estação.
Primeiro, és infante —
tímida, sedenta, alheia ao peso do mundo,
cresces sob os olhos dos lavradores,
que te moldam com calagem e carinho,
corrigem teu berço ácido,
como preceptores zelosos diante da juventude incauta.
Depois, em verde esplendor,
ergues-te como donzela em festa,
brilhante, firme, formosa.
E os pássaros, trovadores do céu,
cantam tua vinda ao mundo,
beijam tua pele antes mesmo da colheita.
Ah, mas logo vem a colheita —
o tempo do corte, da partida, do exílio suave.
És como donzela que deixa o regaço materno,
com véu de esperança e coração temeroso,
e vai ao mundo, onde não mais importa
quem te plantou, nem quem te amou,
mas quão lisa é tua pele e quão firme tua pose.
Nos cestos, no transporte, nas mãos dos homens,
és mercadoria, não memória.
E os que te plantaram talvez nunca te provem.
E os que te colhem talvez nunca te compreendam.
Pois foste levada do seio que te nutriu,
como donzela ofertada a lares estranhos,
sem véu, sem bênção, sem regresso.
Nas mãos que agora te tomam — oh, dissimulado zelo! —
não há ternura que iguale o ventre que te gerou.
Te observam, tocam, desejam,
mas não te veem.
Julgam tua casca, tua curva, tua cor,
mas ignoram tua seiva, tua história, teu coração.
E então vens ao fim, ó madura senhora!
Maciez não mais desejada,
doçura que se desfaz —
deitada à sombra da prateleira,
ou esquecida em silêncio nas sombras do descarte.
E quem te vê, velha e passada,
não lembra os dias em que brilhavas dourada,
não honra o suor que te fez brotar,
nem as mãos que te deram o chão.
Mas o bananal... ah, o bananal permanece.
Como velho rei que perdeu suas filhas à guerra,
ele resiste, paciente, de olhos na terra,
à espera do renascer —
pois todo fruto há de voltar
à raiz que o quis.