Continente

Eu consigo compor minhas melhores melodias

na madrugada,

quando parte do mundo está em silêncio

e outra parte é inundada pela mediocridade mundana;

quando a luz do sol faz as nuvens de primeiro plano,

logo a frente do céu azul.

O silêncio dos outros faz algo gritar

dentro de mim,

e posso afirmar que sempre foi assim.

Não me refiro, porém, a qualquer tipo de silêncio,

a ele, inclusive, sou adepta.

O silêncio que me incomoda é escancarado,

despido e, muitas vezes,

ignorado e engolido pela finitude do cotidiano.

Ele me perturba e me faz querer fugir,

me faz querer me atirar em qualquer estrada perigosa,

mesmo que eu precise nela caminhar até cair.

Talvez, eu esteja no continente errado.

Talvez, a vida faça mais sentido mesmo durante a noite.

Talvez, meus pensamentos mais confusos

se traduzam melhor e dancem no ritmo da brisa noturna

porque é o que deve acontecer.

À noite, é quando tudo se resume a deixar

o inconsciente assumir o comando;

mas, pora algum motivo, talvez até simples,

eu não consigo obedecer.

E talvez a confusão seja fundamental

para chamar a inspiração, e ela faça morada

na individualidade

e procure abrigo em estradas silenciosas.

Se for assim, talvez eu esteja no caminho certo.

Não nego, contudo, toda a insegurança que o "talvez" me traz.

A vida é mesmo tão confusa assim?