AGORA QUE TODOS ESTÃO MORTOS

Agora que todos estão mortos

apenas eu me lembro do menino

No cemitério mal-assombrado

em que se tornou minha infância

fantasmas teimam em não morrer

Na fantasmagoria dos anos inocentes

bailam espectros remotos de gente

aprisionados no fundo escuro de mim

De tudo aquilo que um dia vi

não sabia eu que desapareceria

como assim se foram meus brinquedos

meus tios

Miné

o cachorro Rex

a filha zambeta do zelador

os álbuns de selos

o par de sapatos tamanho 32

a fantasia de Bat Masterson

meus pais

e eu mesmo entre eles vivendo

Se a infância de mim se foi

apenas restou a casa da minha avó

mas ela hoje está oca por dentro

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 08/11/2024
Reeditado em 08/11/2024
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