Dois
Dois
Éramos dois no vazio das ruas quietas,
onde o amor tinha gosto de segredo,
e cada palavra sussurrada se prendia ao vento,
como um último pedido antes do silêncio.
Éramos dois, separados por um abismo invisível,
um espaço de sombras que só nós sabíamos,
onde mãos estendidas jamais se encontravam,
onde o desejo era sombra e fuga.
Teu rosto era a promessa que nunca cumpri,
teus olhos, a verdade que nunca falei,
e em cada passo que dávamos longe,
nos tornávamos menos, nos tornávamos nada.
Éramos dois, caminhando como estranhos,
com o amor guardado nos bolsos como um crime,
como algo frágil demais para a luz do dia,
algo que só o escuro podia entender.
Agora somos apenas vestígios,
dois fantasmas que se cruzam sem toque,
dois nomes que o tempo devora,
dois silêncios que ainda respiram.
E assim seguimos, como quem ama à deriva,
como quem parte sem nunca partir,
dois destinos presos em ecos perdidos,
dois corações que jamais puderam ser um.