Vida de gado
Na enseada do pasto
Ouve-se o rastro passageiro
Ligeiro instinto rasteiro
Vindo da brisa e no vento
Exato como o momento
Enseada de pasto
Vida dinâmica do vento
Calmaria na estrada vazia
Vida embotada no lastro
Boi morto o cansaço
Da lide, da lida no vasto
Mundo carreira de boi
Marcada, aferrada
É a vida do gado
Que anda na boiada
Sem perder-se da manada
De um gado elefante
Numa África-Brasil
No terreiro de candomblé
O gado não se pisa no pé
Passa distante
Ligeiro e ofegante
A dar seu último passeio
No fim do dia o asseio
O gado de aboio
De arreio na cerca improvisada
Na poeira levantada
Do último berrante
No rio atravessou
A vida do gado
Que se perdeu no leite
Na carne, no cercado
O gado que já não se tem
O elefante que come o galho
Da savana seca
Do sertão mirrado
A cantiga aberta
Na verdade exposta
A pobreza do couro do gibão
A botina e o esporão
Que se guia o gado
Que se guia a gente
Toda de uma região
Sem trabalho...
Gente escrava
De uma África
De um umbuzeiro cangaço
De uma trilha aberta no meio do mato...
(Daniel Cartaxo Penalva)