Vida de gado

Na enseada do pasto

Ouve-se o rastro passageiro

Ligeiro instinto rasteiro

Vindo da brisa e no vento

Exato como o momento

Enseada de pasto

Vida dinâmica do vento

Calmaria na estrada vazia

Vida embotada no lastro

Boi morto o cansaço

Da lide, da lida no vasto

Mundo carreira de boi

Marcada, aferrada

É a vida do gado

Que anda na boiada

Sem perder-se da manada

De um gado elefante

Numa África-Brasil

No terreiro de candomblé

O gado não se pisa no pé

Passa distante

Ligeiro e ofegante

A dar seu último passeio

No fim do dia o asseio

O gado de aboio

De arreio na cerca improvisada

Na poeira levantada

Do último berrante

No rio atravessou

A vida do gado

Que se perdeu no leite

Na carne, no cercado

O gado que já não se tem

O elefante que come o galho

Da savana seca

Do sertão mirrado

A cantiga aberta

Na verdade exposta

A pobreza do couro do gibão

A botina e o esporão

Que se guia o gado

Que se guia a gente

Toda de uma região

Sem trabalho...

Gente escrava

De uma África

De um umbuzeiro cangaço

De uma trilha aberta no meio do mato...

(Daniel Cartaxo Penalva)

Daniel Cartaxo Penalva
Enviado por Daniel Cartaxo Penalva em 31/10/2024
Código do texto: T8186621
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.