Outro poema

Quarto estranho

noite enorme e solitária

dá para ver, lá fora,

branqueando tudo

poucos vultos na rua

alguns ruídos distantes

a luz fosca externa

e o vento soprando

mostram-me que tudo é longe

não conheço ninguém aqui

sento-me na cama minúscula

doem-me os ossos

dói-me a cabeça

há uma televisão antiga

um lustre empoeirado

uma toalha no banheiro

Além dos Girassóis

olho para a porta

― poderia alguém bater?

estou só

não durmo

não sonho

espero amanhecer

(só mais um dia)

e o caminho me levará

de volta

a próxima noite

parecerá ínfima

terá respirações

apegos e versos

de outro poema.