Coisa comedora de vida

Quero criar

uma coisa comedora de vida

que na satisfação de si

se consuma lentamente

em consoante delírio

e que seus resíduos,

jóia das jóias,

possam emoldurar

qualquer ser:

o dito, quem diz

e você que nem se ligou.

Olho de técnica

boia em correntezas vacilantes

com seus sentidos arbóreos,

incapaz de seguir,

planta no céu

sua própria criatura,

sua coisa comedora,

seu carrasco

que ao fim do expediente

sempre limpa a sala

e seus instrumentos de trabalho:

Não, não deixa nada,

nenhum fragmento.