O DESAPARECIMENTO DO NEURÔNIO

O neurônio onde tu estavas

No hipocampo da memória

Desapareceu e não mais o acho

No universo das minhas tantas sinapses

Já remexi todos meus lobos temporais

Catei por aqui, por ali e por acolá

E nada de reencontrar o neurônio

Onde teus rosto e nome guardei

Percorri por milhões e milhões de neurônios

Desengavetei as memórias explícitas

Até nas implícitas espreitei e bisbilhotei

Mas em nenhum lugar em mim te encontrei

Achei teu par de sapato-alto vermelhos

Sobre os quais dançastes a valsa dos meus delírios

o aroma floral e refrescante do teu pescoço

e o sabor da pastilha Halls que usavas

Na morfologia abstrata das minhas lembranças

Sobrou de ti objetos, gostos e cheiros

Até a idade em que pensava te amar

Muito além da minha própria eternidade

Estranho essa lacuna que trago

Inominada e sem rosto

De um amor que foi para mim

Assim tão deslembrado e passageiro

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 09/10/2024
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