Desdém

Acordei,

e o medo olhou-me nos olhos,

e sumiu lentamente

na escuridão da mobília

e do meu próprio eu

transcendido e desgastado

pela vigilância constante

das coisas que guardaram meu nome.

Neste instante majestoso,

o fogo contido

no caule da minha existência refletida,

como se por eras concentrado;

evoluiu num só tempo,

mas todo ordenado em ciência,

acendendo as feridas,

as sobras da vida,

as dores dos olhos caladas.

E ali,

diante de tamanha ordem

que supera a ordem daquilo que é pensado

e, por tão efêmero, se transmuta em intuição:

sorri e voltei a deitar.