Para onde fomos?

Os dias passaram rápido

Quando soltamos as mãos na ciranda?

A canção de roda parou

O vento bateu a porteira

Tão forte que o jogo acabou

E era a última partida.

Onde ficamos escondidos?

Paramos de olhar para o céu

As bolas de gude todas se esconderam

O campo de lama secou

Os olhos se cobriram de poeira

A estrada do acaso foi asfaltada

Embaixo de que árvore ficamos?

Havia uma época em que a rua virava uma festa coletiva

O sol levantava de manhazinha e o orvalho da noite fazia xixi nas folhas das plantas

Em pura prova de amor

Havia um riacho escorrendo lá no outro lado

Enchendo lentamente o pequeno açude com suas pastas flutuantes

Em que submergiam os peixes betas coloridos de verde e azul

Os ventos assanhavam os pés de sapotis, soltando suas folhas secas

Pra encher de charme e alarido os nossos passos,

Meninos correndo nus na rua, o chão azulado dos pés de azeitona

Passarinhos roubando mais goiaba do que eu

Fofocas de mães entre as janelas

Tudo era música inesquecível

E quando olho o tempo corrido, mas tão vivo,

Me sinto novamente menino me equilibrando na linha do trem

Meu espírito é secular

Por qual badoque fomos acertados bem ali no coracisco?