PALHOTA À SOMBRA DO BANCO

(Poesia realista)*

À sombra do Banco está uma sombria palhota

Pobre e humilde abrigo que jamais se nota —

O banqueiro passa apressado, sisudo

Olhos no dinheiro e ganância no peito

Tão a frio, alimentando-lhe a vaidade

Entre a palhota e o Banco, ele segue consigo

Mas só vê o cofre onde o ouro, de monte

Se ergue em moeda contada no saque

E finge não notar que doutro lado da rua

Está uma sombria palhota

Ele pretende não ouvir o clamor da voz que

Dia após outro, em dura advertência

Transborda no tempo pelas frestas da palha

Só enxerga riquezas forjadas a sangue do povo

No cofre de aço trancado em si

A palhota no chão batido, não desmorona —

Firme e destemida, está mesmo ali e a postos

— O banqueiro não sabe, mas um dia talvez

Descubra que a Revolta surge da sombria

Palhota, a qual ele tanto despreza

Pela sombra do Banco —

À sombra do Banco está uma sombria palhota

Pobre e humilde abrigo que, em pouco

Se elevará em um lar digno que bem se nota.

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O que é poesia realista? A poesia realista busca apresentar o mundo como ele é. Ela valoriza a objetividade, relato detalhado de ocorrências cotidianas. O factual. O foco em questões sociais, lutas do dia a dia — evitando retratos românticos ou idealizados. Pretende a poesia realista, expor os fatos tais como eles são, numa linguagem direta, mas que não seja simplista.

*Obs: Este tipo de poesia, não é de invenção europea. Já existia em África centenas de anos antes da chegada dos colonialistas. Basta ver o espécime do povo Kwanyama em Angola. São poemas realistas por excelência, em tradição oral.

Redigido em Kimbundu

Tradução portuguesa do autor.