Fantasmas

Vivo numa casa mal assombrada

pelos meus próprios fantasmas.

Eles estão por toda parte,

caminham comigo pelos meus

cômodos vazios

e perturbam minha paz

com gritos silenciosos aterrorizantes;

sobem em minhas costas

e arranham minhas cicatrizes,

me fazendo sangrar;

acompanham o ar

que eu inspiro

mas não me deixam respirar

ou gritar;

rasgam minha pele

e me cobrem de medo.

O medo é a maior parte de mim.

Encaro o espelho

mas é como se estivesse

frente a frente com um abismo,

não vejo nada

além de um vazio infinito.

Corri de costas para o abismo

e estou à beira dele,

sinto a ponta dos meus pés tocar o ar

e pequenos fragmentos de terra caem

sob mim,

ou são minhas lágrimas me deixando

porque se cansaram de desabar.

Não tenho medo de cair,

tenho medo de nunca mais

conseguir sair;

tenho medo de que seja

confortável o suficiente

para que eu não queira fugir;

tenho medo de acordar do transe

em alguns dias, semanas ou anos

e perceber que minha vida passou por mim

e eu só a vi passar.

Fico imóvel onde estou,

com medo de voar

ou de cair

ou de sair e nunca mais voltar.

Tenho medo de que o medo seja

maior que tudo e que me consuma.

Tenho medo de que as palavras acabem

e eu perca a voz.

Pensei ter deixado o medo no passado,

em conversas antigas comigo mesma,

mas sinto que nunca me verei livre de sua presença,

sinto que não saberei como viver sem ele.

Sinto que ele vai se arrastar junto com meu esqueleto

por todos os caminhos da Terra que eu ainda pretendo trilhar.

Sinto que ele será o único confidente

de todos os meus segredos.

E sinto que eu nunca vencerei essa guerra

que travei comigo mesma,

vou perder para minha versão anti heroína

e serei, enfim, minha própria ruína.