PORVIR
Do discípulo peregrino para o mestre:
— De que tu és feito, senhor ?
— Sou feito de histórias.
— Qualquer uma delas ?
— Sim, particularmente as inconclusas.
— Por que estas?
— Elas são escritas com a tinta do infinito.
— Não és tu que as escreve?
— Decerto, mas o vento se encarrega de espalhá-las e voltar para levar mais.
— Elas não têm um final feliz?
— Têm o final que precisamos: sorrisos ou aprendizagem. Se soubermos lê-las com sabedoria alcançaremos em alguma medida a felicidade.
— Nunca pensou em concluí-las ?
— Para que? O melhor sempre estará por vir. O caminhar é mais enriquecedor do que o destino.
O mestre se calou.
O andarilho o reverenciou, levantou-se e pôs-se novamente aos pés da estrada.
A jornada parecia não ter fim,
mas a cada dia reconhecia nas palavras do sábio um novo sentido para os seus passos.