Caneca

Eu culpo o café,

mas ele não é o responsável

por eu estar acordada até agora.

Já passa da meia-noite.

Meus sonhos desejam a liberdade

para saírem do armário em que se calam.

Mas eles têm medo da verdade.

A noite dura longas horas de tortura.

Parece que minhas pálpebras

são como imãs de um mesmo polo.

Não há atração entre elas.

A minha salvação será a minha destruição.

A minha arte parece ser

a única solução.

A vida é vazia demais.

Eu não quero só sangue em meu coração,

ele há de bater por uma bonita razão.

Sempre ouvi que, depois da meia-noite,

os pedidos são atendidos.

Mas que mudança há no caminho da Terra,

se tudo permanece igual dentro de mim?

A ansiedade não me roubou o sono dessa vez,

mas a angústia.

A agonia que me consome a alma.

O desejo de esperar pelo que não vem.

É engraçado como um pensamento nos define.

Folhas correm pela minha mente

em um papel em branco amassado

pelas dores que eu carrego do passado.

Talvez eu deva desistir

e deixar o tempo seguir.

Mas que tipo de amante eu seria

se não pensasse em você

enquanto me perdia?

Sempre existe um você.

Quando eu vou aprender

a viver no singular?

Os plurais são a gravidade

que faz descer as minhas lágrimas.

Eu consigo ouvir o vento

e sentir o gelo em minha pele.

Essa deve ser minha sensação favorita.

Noites cinzas se tornaram meu alento.

Está tudo quieto novamente,

mas a Lua não foi embora.

A dor voltou,

e eu posso dormir agora.