Filas e Fronteiras
Os olhos dela encaram o frio,
O cinismo da amiga,
A madrugada na fila.
O ônibus anuncia partida,
E todos sorriem, e todos dão-se as mãos.
Os olhos dela se distanciam,
A fila anda, as mãos não se encontram,
O muro branco permanece em silêncio.
O trem anuncia chegada,
E tantos são os lenços,
E tantos são os choros,
A vida é tudo o que vai partir.
Os olhos dela choram em Paris
E seus recantos poéticos,
Em suas ruas de cafés e o museu com café brasileiro.
Os olhos desse povo, tanto povo...
Bom dia! O dia vai partir.
Os olhos dela deitam-se em mim,
Aceno com um sinal tímido,
De poucos recursos.
Um ano na fila e eu nem sei seu nome.
O ônibus vai partir
E na fila cabe o mundo.
Leonardo Ramos