NOÇÃO POÉTICA
Sobre certa poesia escrita em Angola
Nos anos oitenta adiante
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Forjar um poema simples sem se desfazer
Na rasa simplicidade é um feito difícil de alcançar
Porém é bem fácil o dito complicado, opaco
Em desalinhadas e ocas estrofes — aquelas
Soltas e confusas por pobre desempenho
Basta tão-só palavrões mesclados à esmo
(Tudo no atropelo)
E lançados por alto qual poeira aos ventos
Em rupturas alheias à reflexão ponderada
Sem anseio por qualquer sentido dos sensos
Nem traços de habilidade comum
Um poema assim distorcido, de todo modo
Mudo se torna, inacessível aos ouvidos d'alma
(Inclusivo para o próprio BOCUDO
A quem o concebe)
Já que carece de verdadeira intenção
Simplicidade sem sequer cair em banalidades
Destreza requer, exigindo lida imensa
E um trato delicado com a sacra línguagem
Pois, fácil não é criar um poema simples
Que, em igual medida, seja de célebre perícia
Sem sucumbir ao indesejável simplório
Crassa obscuridade ou pétrea opacidade
Nada deixam de rica fagulha nem de suave
Recordação na mente de quem o absorva
Apenas prejudicam alheias sensibilidades
Aranhando pobres ouvidos com fedos versos
Carentes de nexos e tom de ínfima harmonia —
Logo, supunha ser conhecimento partilhado:
Enquanto um poema simples mas repleto
De sabedoria, seja arte a sério e memorável
Digna de merecidos louvores e brindes
(Até entre as ledas aves ao céu)
— O abstrato, mergulhado no escuro abissal
Tão-somente se perde ingloriamente
Em seu irresgatável esquecimento.
(Poesia realista)
Redigido em Kimbundu
Tradução portuguesa do autor