Matéria do indizível
Não há movimento que ofusque a cor de uma tarde inerte
nem descrições exatas sobre aquele impreciso limbo
entre a madrugada e a manhã, entre o dia e o anoitecer
entre o fim e a existência, entre a companhia e a ternura
Palavras ressoam acima do que se pode tocar ou ver
mas ainda não se pode chegar ao âmago do pretendido
há silêncios que demoram mais que toda uma vida
e paisagens que nos retumbam a memória e o sentido
Não se deve dizer tudo o que é passível de ser dito
porque não se exaurem todos os significados
existe um canteiro íntimo a ser preservado
há quem diga o que as horas não permitem
e aqueles que nada proferem, os que omitem
somente o toque exprime o que a pele sente
ainda que a carta afague os olhos ou o ego
apenas a dor ensina o pranto indelével
embora o amor seja o prato inexorável
de amena lembrança e doce cuidado
de volúpia que atrai o prazer ousado
descrições são poucas para amar
verbo conjugado em pessoa única
mil histórias são insuficientes
não há civilização que não ame
e ainda assim não nos contentamos
insistimos em não saber
enquanto não pudermos experimentar
a fuga que é se deixar levar
pela certeza em outro olhar