Matéria do indizível

Não há movimento que ofusque a cor de uma tarde inerte

nem descrições exatas sobre aquele impreciso limbo

entre a madrugada e a manhã, entre o dia e o anoitecer

entre o fim e a existência, entre a companhia e a ternura

Palavras ressoam acima do que se pode tocar ou ver

mas ainda não se pode chegar ao âmago do pretendido

há silêncios que demoram mais que toda uma vida

e paisagens que nos retumbam a memória e o sentido

Não se deve dizer tudo o que é passível de ser dito

porque não se exaurem todos os significados

existe um canteiro íntimo a ser preservado

há quem diga o que as horas não permitem

e aqueles que nada proferem, os que omitem

somente o toque exprime o que a pele sente

ainda que a carta afague os olhos ou o ego

apenas a dor ensina o pranto indelével

embora o amor seja o prato inexorável

de amena lembrança e doce cuidado

de volúpia que atrai o prazer ousado

descrições são poucas para amar

verbo conjugado em pessoa única

mil histórias são insuficientes

não há civilização que não ame

e ainda assim não nos contentamos

insistimos em não saber

enquanto não pudermos experimentar

a fuga que é se deixar levar

pela certeza em outro olhar

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 23/06/2024
Reeditado em 23/06/2024
Código do texto: T8092106
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