PRAÇA DA SÉ

Uma luz

Menina moça

Mochila na mão

Longa estrada

Noite adentro .

Vento morno

Adeus de lágrimas

Dois dias e meio

à partir do sertão

Vazio na barriga

Rapadura no embornal:

Medo

II-Premonição

Sono agitado

Chacoalha ônibus

Corpo ensopado

Suor fétido

Desejo de carne de Sol

Vontade de cajá

Pavor se achega

Como demônio

Falta ar

Garganta apertada

Pela corda do vazio

Sacolejo de corpos

Cabeça roda:

Náusea

III-Revelação

Rodoviária cinzenta

Rodopia cabeça

Na quebrada do mundaréu

Confundem-se ideias

Pernas correm

Assustam a mente

Vômito e choro

Em solo estranho

Sem prisma de terra

Sem luz alguma

Pelos trilhos do metrô

a névoa:

Terror

IV- Praça da Sé

Marco zero , catedral

Sem tetos dormem

Homem pega menino

Mulheres da vida

Encostam seus corpos

Nas pilastras imundas

Cheirando à urina

Espelho d’ água

Resfria a testa

São tantas pernas

Para todos os lados :

Cansaço

V- Destino

Vozes na cabeça ordenam : “ grite”

O engraxate ri alto :

“ Cabeça chata”

" cabra da peste"

As vozes ordenam :perca o juízo

É cangapé, é cascudo

É bicuda , é sopapo

Roupas rasgadas

Vermelho escorre

Que estrada é essa

Onde a luz se apaga ?

Destino manicomial