TÃO PERTO, TÃO PRÓXIMA
Sabe quantos poemas tive que fazer
até encontrar você?
Centenas e milhares
de versos desperdiçados
em composições truncadas
imperfeitas e inacabadas
que pouco ou nada tinham a dizer
E você aqui
tão perto, tão próxima
como um escrito de Neruda
disperso em uma prateleira
apinhada de tantos livros
à espera de serem escolhidos
abertos, folheados e comidos
pelo apetite faminto dos olhos
a nutrir o interior insaciável da alma
Sabe quantos poemas tive que ler
até encontrar você?
Procurei-o nas vozes de outros poetas
na soledade mística de Dickinson
nas redondilhas maiores de Camões
no modernismo simbólico de Baudelaire
na heteronímia abundante de Pessoa
nos amorosos sonetos de Vinicius
na feminilidade erótica de Florbela
no intimismo melancólico de Cecília
no lirismo metafórico de Shakespeare
e na objetividade subjetiva de Drummond
E você aqui
tão perto, tão próxima
ao alcance dos meus dedos
bastando estender um braço e a mão
Agora que encontrei você, poema
é que sei o que é viver
no mesmo lar ao lado da Poesia