TÃO PERTO, TÃO PRÓXIMA

Sabe quantos poemas tive que fazer

até encontrar você?

Centenas e milhares

de versos desperdiçados

em composições truncadas

imperfeitas e inacabadas

que pouco ou nada tinham a dizer

E você aqui

tão perto, tão próxima

como um escrito de Neruda

disperso em uma prateleira

apinhada de tantos livros

à espera de serem escolhidos

abertos, folheados e comidos

pelo apetite faminto dos olhos

a nutrir o interior insaciável da alma

Sabe quantos poemas tive que ler

até encontrar você?

Procurei-o nas vozes de outros poetas

na soledade mística de Dickinson

nas redondilhas maiores de Camões

no modernismo simbólico de Baudelaire

na heteronímia abundante de Pessoa

nos amorosos sonetos de Vinicius

na feminilidade erótica de Florbela

no intimismo melancólico de Cecília

no lirismo metafórico de Shakespeare

e na objetividade subjetiva de Drummond

E você aqui

tão perto, tão próxima

ao alcance dos meus dedos

bastando estender um braço e a mão

Agora que encontrei você, poema

é que sei o que é viver

no mesmo lar ao lado da Poesia

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 09/06/2024
Reeditado em 09/06/2024
Código do texto: T8081974
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