AMANTE

Procuro-te como um amante

busca o corpo do seu amado

Em meio a uma multidão de outros

vagueio com uma avidez insaciável

excitado em me deparar com o segundo

em que hei de te encontrar a me esperar

Na desarrumada vida em que vivo

prefiro a surpresa do descobrimento

ao invés do ordenamento dos perfilados

Não tenho em mim a inquietude dos agoniados

pois sei que estás por aqui em algum lugar

e daqui a pouco haveremos de nos juntar

E quando meus olhos enfim te virem

e meus dedos sobre tua superfície deslizar

fugiremos desse mundo discordante

enquanto a eternidade do encontro durar

Acaso fosse bibliotecário de Alexandria

tu estarias em minhas mãos mais cedo

e depressa entraria em teus encapados segredos

Talvez seja melhor arrumar esses livros

espalhados nas prateleiras deste quarto

em que dormirei abraçado contigo, meu livro

que nem fazem aqueles que são amantes

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 31/05/2024
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