Se é só pra lembrar

Se é só pra lembrar que a vida é manca

e passa fazendo saudades e deixando

somente solidão em avanços,

de nada mais vale eu estar aqui

a desvendar meus segredos

no desnudo da alma.

Se ontem foste guardião de minha porta madeira

e hoje gritas desconsolado que és um pobre ancião,

então me ensina o que a vida esqueceu de me dizer:

Que quando cruzamos a ponte de carquilhos amarelos,

o tudo do nada é que cobre de viuvez de vida

a nossa mão encardida de tempo.

Se hoje ancião,

então te cabe cumprir

tua sempre última missão:

Ensina-me! Ensina-me

a ser igual.

Quero segurar como a tua mão o cinzel,

e pintar na parede um retrato meio meigo e sentimental

para depois me afogar

no fosso de minhas próprias lamúrias de dor…

Afinal, ontem fui guardiã…

Hoje...

Hoje sou somente

uma pobre anciã…!