O VAQUEIRO
No surgir da manhã, vagava com seu gado
Alheio aos ventos que zuniam-lhe em frente
Quais toadas entrecortadas a cada passo
E, por momentos, desordenadas pelo sol
Vagava pelas árduas vielas da planura
Levando o rebanho ao campo semoto
Em busca de gotículas d'água nas neblinas
Meio a estação da escassa verdura
Logo, com o cair da tarde e do arrebol
Quando o dia dá costas ao sol, voltava
Voltava na companhia das aves desérticas
Que teimavam pervagar também
Em terreno ressequido, algo quebradiço
E completamente desolado
"Nem sequer um sinal de brumas no céu
Nem trovoada ecoa pelos morros ao léu —
A verdura escasseia neste terreno
E a chuva, a chuva não chegará tão já"
Cantarolavam as aves com o vaqueiro
No convívio do vento que então zunia
E ora soluçava sob o calor intenso do dia.
Redigido em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.