OMEU GRITO

O MEU O MEU GRITO...

Abro,

Escancaro a minha boca...

E imagino que o grito,

O grito que me ensurdece

Mas que ninguém ouve

Vai, finalmente,

Desprender-se,

Soltar-se,

Soltar-se

E ganhar som...

Abro,

Escancaro a minha boca...

Mas o meu grito

Que sinto

Brutal,

Descomunal,

Afinal não aparece,

E ninguém o ouve...

Não tem tom

Nem som...

Abro,

Escancaro a minha boca...

Mas o meu grito,

Tão sufocado

Tão disfarçado

Não se solta,

Emudece...

E tanto, tanto que preciso

De gritar,

Para este nó desatar...

E não sei porquê

Fico calando

O meu grito...

E ignorando

Esta forte

Necessidade de gritar...

Gritar

Toda a minha dor

E o meu temor...

Gritar

A minha amargura

E a minha agrura...

Gritar

O desconforto

E a minha náusea...

Por estar viva

E não poder viver!

Talvez esse meu grito,

Não se solte

Porque, afinal,

Eu não quero gritar...

Talvez esse meu grito

Por tão sufocado e aflito,

Eu já não possa gritar...

Talvez... eu já nem saiba gritar!...

HELENA BANDEIRA
Enviado por HELENA BANDEIRA em 03/12/2005
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