OMEU GRITO
O MEU O MEU GRITO...
Abro,
Escancaro a minha boca...
E imagino que o grito,
O grito que me ensurdece
Mas que ninguém ouve
Vai, finalmente,
Desprender-se,
Soltar-se,
Soltar-se
E ganhar som...
Abro,
Escancaro a minha boca...
Mas o meu grito
Que sinto
Brutal,
Descomunal,
Afinal não aparece,
E ninguém o ouve...
Não tem tom
Nem som...
Abro,
Escancaro a minha boca...
Mas o meu grito,
Tão sufocado
Tão disfarçado
Não se solta,
Emudece...
E tanto, tanto que preciso
De gritar,
Para este nó desatar...
E não sei porquê
Fico calando
O meu grito...
E ignorando
Esta forte
Necessidade de gritar...
Gritar
Toda a minha dor
E o meu temor...
Gritar
A minha amargura
E a minha agrura...
Gritar
O desconforto
E a minha náusea...
Por estar viva
E não poder viver!
Talvez esse meu grito,
Não se solte
Porque, afinal,
Eu não quero gritar...
Talvez esse meu grito
Por tão sufocado e aflito,
Eu já não possa gritar...
Talvez... eu já nem saiba gritar!...