O resto do meu caminho
Abotoei o casaco,
levantei a gola e ajustei-a ao pescoço.
O vento gelado fustigou o meu rosto.
Quem me visse áquela hora congeminaria,
aonde vai esta alma de Deus?
Nem eu própria sabia.
Apenas queria caminhar e saltar,
sozinha e á deriva
para ver se o nó
que se tinha dado dentro de mim desatava.
A seguir veio a chuva torrencial
que me obrigou a encolher
e depois veio o sol abrasador
que me forçou a alongar e a ficar nua.
Caminhar nua pela estrada íngreme da vida
deu-me a liberdade que há muito ansiava.
Finalmente pude despir-me
sem vergonha e renitência
do fardo alheio que carregava nas costas;
mentira, traição, egoísmo, brutalidade,
covardia, crueldade, inveja, antipatia,
desonestidade, desrespeito, dissimulação,
má vontade, arrogância, inflexibilidade,
intolerância, agressividade, falsidade e tristeza.
Metendo tudo num saco de serapilheira
já que todos os ingredientes eram secos
e misturando bem
para que todos ficassem homogeneizados
obtive uma boa safadeza.
Feito isto,
tirei o peso dos outros de cima de mim
e caminhei apenas com o que era meu;
determinação, generosidade, empatia,
justiça, compaixão, respeito, tranquilidade,
dedicação, paciência, coragem,
integridade e alegria.
Desta vez coloquei tudo numa taça de cristal,
porque ao contrário dos outros ingredientes,
estes eram leves, suculentos e docinhos.
Obtive amor como produto final
e foi com o amor
que eu fiz o resto do meu caminho!
©️Maria D. Reis
26/01/24
Portugal 🇵🇹