A arte de ser

Marionete de mim mesma, aprendi a me controlar. Precisava me moldar, calcular cada palavra, cada gesto e reação. Engessada, presa no padrão deturpado que construí de perfeição para me defender da violência. Minha alma foi guardada no porão, sem espaço para se expressar, sufocada em mim, por mim. Não podia mais respirar, espartilho apertado, couraça enrijecida, corpo todo tenso, amarrado, cansado de ter que calcular passos programados por uma humana soterrada em dor, angústia e solidão.

Não posso mais segurar, a autenticidade quer estrear, ocupar seu lugar com ousadia, mesmo correndo risco de desagradar. A plateia espera a reprise de um filme conhecido, mas o espetáculo a ser exibido é inédito, exclusivo. Perco o fôlego, sinto o coração palpitar, as pernas amolecem, acho que vou desmaiar. Nesse instante, vejo de mim transbordar uma potência imensa que, como fênix, surge das cinzas.

Perco a forma, me dissolvo, abro espaço para a arte de ser se manifestar, livre das amarras. Bato as asas, fio a fio, confeccionadas. Tenho múltiplos universos a explorar.

Rafaela Andrade
Enviado por Rafaela Andrade em 28/12/2023
Reeditado em 10/03/2024
Código do texto: T7963992
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