Gelo e Fogo
O Gelo queima cortantemente, penetra carne,
destila-se na alma, mil agulhas de Fogo
a infiltrar nossos pontos cardeais, de dentro,
Paralisante, fazendo da medula um súbito elevador glacial;
Coração ardente de Antares oculta pelo Sol
no mistério das águas profundas de novembro,
Delírio de extremos causados pelo veneno de Shaula,
flerte platônico intermitente que virou o século;
Esse Gelo é um dialético Marte,
se mostra vermelho ariano aguerrido,
vermelho colérico em fenótipo de Vênus,
mas é composto por gelo, um Gelo solar
a queimar todos a sua volta cintilando
sua implacável e avassaladora ternura,
seu elã sombriamente fádico, radioativo,
Fogo vivo cristalizado no seio do tempo.
Gelo e Fogo, coágulo de âmbar
que tonalizam as espirais que te lauream,
ondas e cachos que enrolam as memórias de infância
a embrenhar-me até os dias de hoje,
Gelo e Fogo, magia ancestral
conjurada em idioma adâmico
no Paraíso Perdido de nosso passado
ecoando nossa inocência fugidia.