Maria Ninguém
Em uma casa modesta
Constantemente agredida
Com um grande V na testa
Vive Maria, a bandida.
Nas baladas não vivía
Era uma dona de casa.
Não cantava, não sorria.
Era um colibri sem asa.
Acordava bem cedinho
Para, o café, preparar.
Fazia pão e bolinho.
A meta: não apanhar.
Com olhos arroxeados–
Antes eram cor de mel...
Só ia aos supermercados
Comprar pedaços do céu.
Vestia-se com esmero
Essa senhora de véu...
A Helena de Homero...
Um presumido troféu.
Falava sempre baixinho
Para nunca provocar
O furor de Ricardinho...
Que estava sempre a gritar.
O seu corpo de hematomas
Sempre estava pincelado...
Realismo com sintomas
De vandalismo macabro.
E, ainda que fizesse
Tudo corretamente,
Cada soco era a quermesse
Vista diariamente.
Certo dia, bem airosa,
Decidiu se arrumar:
Saia preta, batom rosa,
Ela estava de arrasar.
E, sob o céu, ofegante,
Linda, se pôs a dançar
Com Marias delirantes
Que se faziam lembrar.
Vendo-a plena de si
Brilhando como aurora
Odiou com frenesi
Aquela luz de outrora.
Ele não permitiria
Tão audaz descaramento!...
Com Maria acabaria
Pois chegou o seu momento!...
E, com um punhal, feroz
Apunhalou com sadismo
Todo o seu corpo, o algoz,
Movido pelo egoísmo.
Autora: Hebe Santos