Maria Ninguém

Em uma casa modesta

Constantemente agredida

Com um grande V na testa

Vive Maria, a bandida.

Nas baladas não vivía

Era uma dona de casa.

Não cantava, não sorria.

Era um colibri sem asa.

Acordava bem cedinho

Para, o café, preparar.

Fazia pão e bolinho.

A meta: não apanhar.

Com olhos arroxeados–

Antes eram cor de mel...

Só ia aos supermercados

Comprar pedaços do céu.

Vestia-se com esmero

Essa senhora de véu...

A Helena de Homero...

Um presumido troféu.

Falava sempre baixinho

Para nunca provocar

O furor de Ricardinho...

Que estava sempre a gritar.

O seu corpo de hematomas

Sempre estava pincelado...

Realismo com sintomas

De vandalismo macabro.

E, ainda que fizesse

Tudo corretamente,

Cada soco era a quermesse

Vista diariamente.

Certo dia, bem airosa,

Decidiu se arrumar:

Saia preta, batom rosa,

Ela estava de arrasar.

E, sob o céu, ofegante,

Linda, se pôs a dançar

Com Marias delirantes

Que se faziam lembrar.

Vendo-a plena de si

Brilhando como aurora

Odiou com frenesi

Aquela luz de outrora.

Ele não permitiria

Tão audaz descaramento!...

Com Maria acabaria

Pois chegou o seu momento!...

E, com um punhal, feroz

Apunhalou com sadismo

Todo o seu corpo, o algoz,

Movido pelo egoísmo.

Autora: Hebe Santos

La Bruja
Enviado por La Bruja em 25/11/2023
Código do texto: T7940408
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.