Eis
Voz masculina:
Eis que é a aurora
Um brinde do divino
Mão que tudo colora
E que faz o ciclo genuíno
Ser mais que o tique da hora
Que incendeia o olhar do destino
E afasta o medo do agora
Voz feminina:
Eis que escurece
A noite cai silenciosa
Silencia a alma que cresce
Espanta a flor vitoriosa
É o corte à fantasia que entristece
É a lâmina na falha imperiosa
Sorriso amargo de quem padece
Voz masculina:
Eis aqui a primavera
Mãe de todas as virtudes
Senhora de qualquer era
A mão que guia juventudes
Pelo túnel de paixões e espera
Que conta grãos e dá saúdes
Que jamais cobra ou desespera
Voz feminina:
Eis lá o bom inverno
Pai de todas as estações
Pois tudo é frio no fundo interno
E assim se entende as criações
Seja efêmero, sutil ou eterno
Só o frio entende as solidões
E as suporta de modo fraterno
Voz masculina:
Eis o correr das águas nascentes
A natureza que se move e renova
O brilho das cascatas inocentes
Cada gota uma infinidade nova
Nas cores dos arcos-íris sorridentes
Toda existência espera que chova
E segue até os oceanos valentes
Voz feminina:
Eis acender a nobre chama
Olhar que comanda batalha
O fogo é a voz de quem ama
E o castigo a quem atrapalha
É quem governa e dá fama
Dispersando a flor e a gentalha
Rei soberano de toda trama
Voz masculina:
Eis uma vida, a minha
Que segue frenética e perdida
Que se enrola feito vinha
Na minha mente só e aturdida
Que não escolhe nem adivinha
Se é melhor vencer ou a partida
Mas sabe que é feliz sozinha
Voz feminina:
Eis uma chance,a provareal
O canto da noite cega sem luar
E só se ouve o anúncio do vendaval
É chegada a hora de se posicionar
O futuro que rasga feito punhal
O medo de se perder e não voltar
A Morte que chega e a hora final
Voz masculina e feminina:
Eis o estrondo do vento
É a decisão a ser tomada
Num instante é ínfimo argumento
Noutro é completa madrugada
É a força do novo movimento
É a decisão a ser contemplada
Eis o tempo, o tempo, o tempo