MERGULHO EM ALTO-MAR DO QUARTO ANDAR
O mar parece tão alto daqui
Da janela do meu quarto no quarto
Andar a uma quadra da beira-mar (quatro lances de escada, duas esquinas, uma calçada, areia clara, água salgada, mais e mais…),
Cobre os prédios de onde eu vejo
Encosta o céu beijando nuvens no horizonte,
Essas úmidas que mais tarde choverão ali.
Se a terra fosse plana eu iria de
Longe do outro lado enxergar e
Não aos poucos ver sumir.
Esse mar que nem tão azul assim
É só efeito, reflexos, impressões de ótica
Feito quando me deito na areia fitando
O infinito com um punhado de reflexões
Passeando na cabeça, carregando a ideia
De consagração, pensamento latente
Que insistente bate na porta da frente
Eu abro e deixo entrar, me ponho à mercê
Sem endereço caçando continuamente
O íntimo do que eternamente importa.
Mar que salga o organismo mantendo
O equilíbrio dos fluidos corporais,
Mar que salva vidas sem que se perceba,
Mar que leva e traz de volta,
Mar que abraça, dilui, afasta
Um oceano de sensações ruins,
Excessos de antecipações
Que ansiei, conversei, desprendi.
Onda que acorda quebrando na cara
Onde recebe visita e tem quem mora
Vida que acontece, vida que adoece,
Solo que estremece, vida que demora.
Mar que não temo, mas mesmo quando
Manso mantenho igual respeito.
O mar é mistério moldando o imaginário
Lá no início berço imerso do imperfeito
Emergindo o antecessor do ser humano
Cuspindo o fruto de futuros defeitos.
Pena que não posso a imagem dos olhos num poema registrar,
Mas levo a sensação. Lembro sempre que leio e releio
Desconfio do receio desse contato direto, imediato com o mar.