Morfologia dos Instantes

E se me der vontade de ficar?

E o acaso, caso queira ir?

Soluços de torrões de eu.

Por dias, canso.

Por vezes, sou bravo.

Em dias, sou manso.

Neles todos, inescapavelmente,

somos eu.

Mas ainda àqueles se digam:

coisa pouca, deixe estar.

Deixei estar sendo como é.

Deixei como a quem abandona coisas ao chão.

Coisas organizadamente caóticas.

Pisei e machuquei meus pés.

Não tenho para onde voltar,

afinal, nunca saí de mim.

Devastadoramente, creio em pássaros.

Acredito em cantos.

Vejo moribundos;

Aprecio os sujos;

Como engordurando as mãos.

Primata em sentido máximo de sentir.

E, vejo e tiro meus ais de onde suspiram quereres plásticos.

Ai, ai de mim, que não gosto de prantos comprados.

Minhas flores morrem;

Meus poentes são funerais;

Minhas auroras, entropia doce de minh’alma.

Ainda, ainda assim, sou capaz de me decepcionar.

Sou capaz de nutrir meu eu fora de mim.

Minha placenta de desejos.

A dor do meu parto artificial.

Natimorto.

Sem poesia,

Sem calor,

Sem acalento.

Paralelo.

Antropoceno de vultos.

Libelos.

Dentro de mim, tenho todos.

Dentro de mim, solidão povoada.

Meu dialeto raso de sentidos,

A que sinto e rendo ser.

Sem motivo ou dolo.

Aquele que vos fala, sou eu.

Aquele que lhes abre os braços sou eu.

E calado,

Quieto,

Sou capaz de urrar motivos vários,

Para permanecer calado.

Como terra seca que bebe chuva.

Meu pranto conta-gotas.

Morbidez em sorriso.

E minha mente estabelece sentidos vários,

Sentidos de meus inimigos mais ardilosos,

Sentidos meus.

Eu, eu, eu.

Primeira pessoa,

Singularmente eu.

Paradoxalmente,

Às escondidas, vários.

Notadamente um.

Sangro e rio por ser inútil,

Meu meio de ser fim.

Ao final, invento de mentir verdades,

Findo o finito que nasceu e morrerá.

Como frase que chama seu ponto,

Vida, como vírgula do fim.

Texto que é escrito,

Sem saber o final.

E no início era apenas verbo;

E hoje somos substantivamente coisa.

Não aprendi dos açoites,

Ao fim,

Eu-lírico oculto,

Sou fazedor de mim.