Sem titulo
deixe-me não reagir a cada coisa que acontece ao redor
deixe-me não emitir opiniões,
neutro, não procurar ver mais
do que o que se apresentar espontaneamente
aos meus olhos nus e de retinas fatigadas
sem instrumentos óticos nem telas digitais
não tentar saber mais
do que aquilo que chegar pela sabedoria dos ancestrais
ser como a última parede ainda em pé
de uma casa em ruínas no meio do matagal
como um tijolo dessa parede
sendo aos poucos convertido em tinta terrosa
e se misturando à clorofila embaixo
deixe-me ser um pedaço de pau
depositado à beira do rio
longe da turbulência das águas