CALENDAS OU JANUS

CALENDAS OU JANUS

 

Certo tempo me via em dez meses,

E o ano começava com Ares e março,

Mas há culpa de Rômulo, às vezes,

E posso errar contas num embaraço.

 

Certo dia, Júlio Cesar acordou,

E se viu diante de outro dilema,

Tinha oitenta dias que se passou,

E as calendas já era um problema.

 

Muito antes de Jesus Cristo,

O tempo era meio sem regras,

Pois o Sol não nos disse isto,

Que o giro da Terra é entrega.

 

Com as datas todos comemoram,

E registram memórias e amores,

Eternizam seus reis e devoram,

Quem não gostar desses valores.

 

E assim vem o calendário Juliano,

Que corrige o que é incorrigível,

Pois só perto dos finais de ano,

Percebemos a falta de um nível.

 

E assim, toma gosto o Gregório,

Que também modifica o seu tempo,

Pensou ele que decidia o velório,

Ou haveriam querelas com o vento.

 

Mas o vento só vem pelos giros,

E assim ouço ecos no desfiladeiro,

E por isso degusto uvas e figos,

Em devaneios que editam janeiros.

 

Só não sei porque esquecem datas,

Se tivemos todo tempo para vê-las,

Pois as lembranças serão gratas,

Se mostrar para nós as estrelas.

 

Mas esquecem do mito de Janus,

Um olho à frente e outro atrás,

Como se eu buscasse meus anos,

Na luz dos astros ancestrais.