...E NADA MAIS

Desligue tudo

apague a luz

desplugue os aparelhos

esqueça os minutos e as horas

tampe os ouvidos

feche os olhos

acompanhe o ar que inalas

e me diz: que vês?

“Escuridão e nada mais”

Continue

siga o ar que te adentra

pois enquanto houver oxigênio

ainda há funduras por dentro

e me diz: o que atinges?

“Uma parede e nada mais”

Escave com tuas unhas

não pare

prossigas

não desista

insista e persista

e me diz: o que avistas?

“Um deserto e nada mais”

Ande

avance mais

avizinha-te do horizonte

que por detrás de um horizonte

há outros horizontes e além deles

ainda haverá horizontes

a continuar o caminho

que não tem seta, placa ou estrada

e me diz: o que ouves?

“Silêncio e nada mais”

Ouça

escute bem mais

esqueça os sons

desaprenda as palavras

apague de si todos as frases

abandone as gramáticas

renuncie os vernáculos

e me diz: como te sentes?

“Como um espelho e nada mais”

Então te olhas

sem óculos

sem vestes

sem distrações

sem fachadas

sem fantasias ou disfarces

sem cosméticos ou maquiagens

e me diz: o que refletes?

“Eu, somente eu e nada mais”

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 04/01/2023
Reeditado em 04/01/2023
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