...E NADA MAIS
Desligue tudo
apague a luz
desplugue os aparelhos
esqueça os minutos e as horas
tampe os ouvidos
feche os olhos
acompanhe o ar que inalas
e me diz: que vês?
“Escuridão e nada mais”
Continue
siga o ar que te adentra
pois enquanto houver oxigênio
ainda há funduras por dentro
e me diz: o que atinges?
“Uma parede e nada mais”
Escave com tuas unhas
não pare
prossigas
não desista
insista e persista
e me diz: o que avistas?
“Um deserto e nada mais”
Ande
avance mais
avizinha-te do horizonte
que por detrás de um horizonte
há outros horizontes e além deles
ainda haverá horizontes
a continuar o caminho
que não tem seta, placa ou estrada
e me diz: o que ouves?
“Silêncio e nada mais”
Ouça
escute bem mais
esqueça os sons
desaprenda as palavras
apague de si todos as frases
abandone as gramáticas
renuncie os vernáculos
e me diz: como te sentes?
“Como um espelho e nada mais”
Então te olhas
sem óculos
sem vestes
sem distrações
sem fachadas
sem fantasias ou disfarces
sem cosméticos ou maquiagens
e me diz: o que refletes?
“Eu, somente eu e nada mais”