pequena.
eu tento ocupar o mínimo de espaço possível.
tento deixar minhas coisas sempre arrumadas o suficiente para juntá-las com cinco minutos, se for preciso.
sempre pronta para partir como um pai que não reconhece a si mesmo no olhar de seu recém-nascido.
quero permanecer, mas temo que minha presença seja uma inconveniência pequena o bastante para ninguém realmente me expulsar,
mas ainda sim uma inconveniência.
e quando eu não vou,
quando eu olho para alguém e quero chamá-lo de lar,
eu sei que eles irão no meu lugar.
então eu os informo desse inevitável fim,
e sou assegurada de que dessa vez, não irá acontecer.
eu vim pra ficar, eles dizem.
sou diferente de todos os que passaram antes.
e eu não quero insistir em minha solidão,
então fico quieta, mas eu sei.
eu sei.
quando estou deitada no sofá da casa para onde me mudei como adjacente,
aonde tento me encaixar de todas as formas,
compensar pela minha presença,
percebo que estou ocupando uma fração minúscula do móvel.
estou deitada em posição fetal, mas não há mais ninguém dividindo o espaço.
então escrevo esse poema.
porque mesmo ocupando pouco espaço,
eu tenho muito a dizer.