A outra de mim
Setas agudas atingem-me a alma
São tantas que não as posso contar
O silêncio me consome, devora
Respiro fundo, não perco a calma
Mas sinto que já é hora
Do meu outro eu voltar
É frágil a outra de mim
Mas também muito mais forte
Trava batalhas, enfrenta a morte
Não aceita triste fim
Não espera o dia de sorte
Pensa a ferida, ri-se do corte
Escreve o não por cima do sim
Já a eu da primogenitura
"Segue se reinventando"
"Tecendo e também desfiando"
Vivendo a vida mais dura
Enquanto aguarda madura
O dia prateado, a lua mais pura
Mas quando as duas se juntam
Desjejuam e também jantam juntas
Fundem-se bem lá no fundo
No lugar escondido do mundo
E de lá retornam ligadas
Mescladas, unidas... amalgamadas
Um ente e outro distinto
Na mente una, bastante distante
Que une os secos e os tintos
O que é opaco e o radiante
Vestidas de real vestimenta
Alistadas para a guerra futura
Para ser lanho e lanhadura
Prontas para o sol e a tormenta...
Texto inspirado na poesia "Tiro ao Alvo", da poetisa Ane Rose.