EU LÍRICO
Meu eu lírico é um tanto
rouco, gago e desafinado
suspira pra fora
o que guardo por dentro
e tem a voz parecida
com meus pensamentos
Enquanto sou de ossos e carnes
ele é feito de comoções e afetos
e quando sou eu quem parte
é ele quem me faz sentir saudades
Meu lirismo é meio antiquado
vem de lá do século passado
talvez por isso quando me interrogo
seja ele quem se contrarie e se exalte
Não sou romântico nem sentimental
embora ame o que amo amar
e seja sensível no lado emocional
sou por fora postiço e superficial
Meu eu lírico é um outro que trago
debaixo das vestes e das roupagens
que para os espelhos é impercebível
apenas visível quando me olho adentro
Meu eu lírico é camuflado
encolhido e encabulado
mas quando quer se desponta
a soltar pelo mover dos dedos
o interior subjetivo e dissimulado
das minhas funduras intangibilidades
Como poeta escrevo poemas
que em versos meu lírico se revela
e ambos sou eu por inteiro e incompleto