Cantata do adeus
Música no ar,
luar. Um perfume.
Beijamo-nos.
Quando abrimos os olhos
as primeiras gotas rolam
nos vidros da janela.
A música, os ruídos da chuva caindo,
tu me olhas nos olhos,
arrumas meus cabelos,
dizes-me, sem mais, adeus.
Adeus? Como adeus,
se são teus os meus sonhos,
se são meus os teus lábios,
se é nosso este instante?
A música, a fragrância,
tudo é teu e meu!
Como posso seguir,
se no instante do adeus
ainda me olhas nos olhos,
ainda dizes querer-me?
Já mais um instante e tudo parece irreal:
aquelas palavras não houve,
não te despediste para sempre...
...mas tu te foste de mim;
ficaram só o perfume e a música no ar.
Isso já faz muito tempo;
hoje a música é lembrança
sofrida, cansada, é saudade.
Ouço a música e sinto
as notas suaves da mesma nossa fragrância; se chove,
vejo o teu rosto nas gotas
de toda chuva caída nos vidros.
Em algum lugar
outra música, novo perfume
e uma garoa recém-chegada marcam outros dois jovens . [apaixonados.
Que para estes um novo desfecho exista;
melhor: que não haja desfecho,
e eles prossigam sem música,
sem notas, sem cheiros,
apenas eles,
apenas eles,
apenas eles.
Também esta poesia é em sua homenagem, Beto, porque você me propôs o tema: Música. Com um grande beijo, da sua irmã, Neu.
Obs.: Roberto F Storti, meu irmão, também escreve neste Recanto.