DESPERSONALIZAÇÃO

Qualquer dia desses

ainda irei acordar outro.

Não me reconhecerão meus amores,

companheiros, parentes,

ou pets.

Surpreenderei no espelho

um visitante de outro tempo,

de outro mundo,

ou fugitivo de algum delírio onírico.

Identidades, afinal, pouco importam.

Nascemos indigentes e morremos desconhecidos.

Ninguém neste mundo

é de fato alguém.

Apenas o mundo,

em sua inconstância,

realmente existe

através de nós e de ninguém.

Qualquer dia desses

ainda acordarei morto

e o mundo continuará sendo o mundo,

como sempre foi,

antes da minha existência.