O xaile
Quando ela chegou,
uma auréola de luz iluminava o seu rosto.
O olhar era eloquente,
o sorriso branco e cândido
o seu andar, gracioso.
No ar pairava uma sensação de espanto
e de mistério.
Ela caminhou suavemente até ao canto
onde havia alguns sacos
para serem doados para a caridade.
Ela abriu um
e retirou um xaile de veludo preto.
Beijou-o carinhosamente
e abraçando-o dirigiu-se á sala.
Olhou atentamente todo o espaço
e fixou o olhar numa mesa
colocada junto á janela.
Moveu-a para o canto inferior contíguo
e estendeu o xaile sobre ela
como se fosse uma toalha de brocado.
Era o xaile de sua mãe.
Em cima,
colocou os Santos da sua devoção
a Bíblia e as fotografias
dos entes queridos que já partiram.
No centro,
uma vela que mantém sempre acesa.
Ajoelhou e rezou.
É ali o seu lugar de culto,
longe dos olhares curiosos
e das línguas viperinas.
O lugar nobre,
onde em silêncio presta homenagem
áqueles a quem amou e acarinhou em vida.
©Maria D. Reis
01/10/22
Portugal